Subo lentamente para que os meus passos não absorva a minha indignação quanto ao que sou ao que fiz e ao que me restou... Nem de longe fui o que sonhei, criei expectativas nas sombras de um novo alguém. Ao 13º andar de um arranha-céu tão iluminado, vou subindo devagar, castigando o meu corpo suado para que a minha alma sofra a dor de ser tão frágil e absurdo. Com passos lentos, vou navegando em minhas lembranças, relatando como mágica os meus sonhos de infância, os meus amigos do futebol, a primeira professora, os meus primeiros passos na faculdade, os medos, as alegrias e até o meu primeiro emprego. Porém, tive uma vida regrada de acontecimentos, ora feliz, ora chorando, mas definitivamente sentia um mundo irreal, fora do que sou e do que gostaria de ter sido. As lágrimas não me acompanham nessa viagem que mais parecia uma turnê, agora era apenas eu e a dor... Enfim, cheguei na “garganta” daquele “monstro” projetado por certo alguém, e lá de cima, pude contemplar uma cidade acesa para o mundo, pessoas passando por debaixo de mim, pude me sentir gigante, livre e forte, porém, em silêncio olhei estupidamente aquele mundo aceso e coberto de esperança, por alguns instantes, consegui olhar acima de mim, aquele azul imenso, que nem eu mesmo saberia onde iria dar, mas que ao olhar, me acalmava e me fazia flutuar. Na corda bamba, olhei aquele universo de pessoas transitando, sem ao menos notar-me neste inferno que me parece um paraíso. Até aqui tive milhares de testemunhas ocultas esperando singelamente pela decisão que havia tomado desde que nasci, acredito até que algumas foram eternas companheiras, e como todo descuidado, não premeditei como seria a minha “estória”, apenas acreditei que ela teria um fiml. Dei-me cinco minutos, para observar os encontros clandestinos entre o céu e mar, ambos confusos, mas eternos companheiros e amantes, sem contar com a senhora lua apaixonada, que se despiu para abençoar esse livre encontro. Com este olhar, fui me recordando de alguém que um dia amei, meu primeiro encontro, meu primeiro 10, e o meu primeiro tudo. Meu corpo tremia, minhas mãos suavam... Era o meu inicio de vertigem por estar diante do mundo com braços abertos para voar... No primeiro segundo tive medo de perder tudo aquilo que os meus olhos contemplavam, e aos poucos, fui deixando toda a emoção tomar conta de minha decisão, daquele vazio que me consumia e fazia de mim, um tolo. Abri as mãos, fechei os olhos, e como um ultimo desejo, suspirei. Senti um toque suave em meus ombros, e foi surpreendido com um olhar piedoso diante de mim: Um senhor que aparentava os seus 70 anos que sinalizava uma força brutal no seu olhar, estendeu a mão em direção a mim, dizendo: ”Estou 50 minutos atrasados, sinto muito, as minhas pernas já não tem mais a mesma força, e por isso, por várias vezes, tive que me poupar.” Continuei olhando aquele senhor, falava com intimidade, com uma suavidade como se fosse alguém de minha inteira confiança me estendia à mão, ainda me revelou: “Vim te fazer companhia, e não me perdoaria se não chegasse a tempo de lhe pedi um forte abraço e lhe dizer que para mim, você é muito importante, é único, mesmo que ignore a minha fala, o seu abraço me tornará mais forte, menos inútil, e o homem mais feliz... Sem sequer responder, eu sorri ao imaginar quantas asneiras um homem a beira do suicídio teria que ouvir. Porque um alguém que nem sequer sei o nome, me diria tudo aquilo? Talvez, eu até merecesse ouvir tantas bobagens, mas poderia ser em outra hora, depois que revi cenas lindas de uma noite nupcial, não admitiria... Nem me despedir eu conseguia com sucesso, pensei... Aquele homem com o corpo esquivo quase me suplicando um abraço, e com aquele olhar, eu diria que mendigava um consolo. Então, como um ultimo pedido resolvi atende-lo e ouvir a sua própria “estória” escrita com um começo do primeiro abraço de um suicida imortal... E foi assim que: Aqui estou...
Cláudia Bispo